quarta-feira, 18 de maio de 2016

Deixem o homem trabalhar!

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Ricardo Noblat
Dilma caiu, mas a ficha do PT ainda não caiu. Ou melhor: a ficha de sua militância, nela incluída a profusão de blogs e de sites chapas brancas que alugaram sua voz por alguns bons trocados para defender Dilma e o PT.
Querem imobilizar Michel Temer. Cobram que ele faça tudo igual à Dilma ou, de preferência, à esquerda do que ela fez. Espancam Temer pelo que faz, pelo que deixa de fazer e pelo que jamais fará.
Se ele se esquece de pôr uma mulher no ministério, apanha. Se ele se apressa em povoar seu governo de mulheres em cargos de relevo, apanha porque se revela um presidente sujeito a pressões.

Ora, assim como Dilma, Temer é uma invenção de Lula, engolida pelo PT de bom ou de mau agrado, não importa, mas engolida. Vão reclamar a Lula, agora às voltas com sua herança maldita.
Temer serviu como vice para garantir os votos do PMDB à eleição e reeleição de Dilma. Foi diplomado pela Justiça Eleitoral juntamente com ela. Mas agora não serve para governar? Como não serve?
Não se escolhe um vice sem levar em conta que ele substituirá o presidente em suas ausências eventuais, ou numa ausência definitiva. Como o PT imaginou que Dilma seria eterna… Ou até Lula voltar…
Foi eterna enquanto durou. Pelo que fez e, principalmente, pelo que deixou de fazer, até que durou mais do que o próprio PT e Lula desejaram. Há muito tempo que queriam livrar-se dela.
Temer é um político conservador, e o PT sabia disso. Justamente por ser conservador, foi escolhido para vice. Era preciso contentar e garantir o voto de eleitores mais à direita.
Não indiquei Temer para vice de Dilma. Nem você indicou certamente. Não votei na dupla Dilma e Temer. Não sei se você votou. Votei em Lula mais de uma vez. E o resultado… Peço desculpas pela parte que me cabe.
Só bati de véspera em um único governo: no de Fernando Collor. Tinha certeza que seria um desastre porque seu titular era uma fraude, como se provou. Perdi o emprego por isso.
Aos governos que antecederam ao atual, desejei boa sorte. Torci para que dessem certo. Não vejo sentido em torcer pelo fracasso de ninguém. Muito mais quando o destino do país está em jogo.
Desejo boa sorte ao presidente Temer. Ele pode contar comigo para fiscalizar seu governo com rigor e sem piedade. Creio que é para isso que servem os jornalistas.
Assino embaixo o que um dia disse Millôr Fernandes: “Jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados”.
E acrescento: o jornalismo serve para satisfazer os aflitos e afligir os satisfeitos.
(foto: Reuters)

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